Nossa conversa hoje é sobre política e ciência, ou seja, dois assuntos que no Brasil se tornaram uma grande briga. Após 2 anos de pandemia em 2020 e 2021, tivemos diversos problemas em vários ministérios em Brasília e dentre eles tivemos uma dança das cadeiras considerável nos cargos de ministros.
A frequente troca de ministros que fez com que muitos que trabalham com ciência voltassem sua atenção para o Ministério da Educação. Depois de várias pessoas serem cotadas para assumir o cargo, diversas desistiram por conta da pressão da mídia e também do governo. Nesse contexto, o curriculum lattes de alguns foram verificados e a mão pesada do rigor científico foi aplicada para alguns e os títulos foram se desfazendo.
No site da FGV podemos encontrar facilmente o resumo da tese de mestrado de um dos candidatos e podemos ver que vários termos não foram traduzidos. É possível que o autor tenha apenas jogado os termos no Google Translate sem nenhuma verificação.
Além disso, fizeram um checagem dos trechos que foram detectados plágio. Ao menos quatro trechos apresentam texto copiado sem referenciar os autores. Veja as notícias aqui.
Mas, agora trago uma pergunta para o debate, será que só o candidato ao cargo de ministro que comete plágio, ou traduz errado seu abstract?
No Brasil existe uma cultura de usar o rigor científico apenas quando queremos colocar um pesquisador “na fogueira”. Não quero, em nenhum momento, defender que o plágio deve ser praticado em algum lugar, no entanto, existe uma cultura de “deixar pra lá” nos casos anônimos.
Se ninguém vê algo errado, isso deixa de ser errado?
No meu ponto de vista, as pessoas que conhecem o rigor científico apenas aplicam esse rigor em casos isolados quando querem julgar o próximo. Quando isso acontece em um artigo seu, poucas pessoas se dão ao trabalho de verificar isso.
Nos países lá fora ouvi relatos sobre o rigor exigido pelas universidades. Universidades dos Estados Unidos utilizam sistemas para detecção de plágio e quando existe indício, é feita uma investigação para apurar o caso. Essas investigações não ocorrem apenas em trabalhos de conclusão de curso ou teses, mas até mesmo para atividades rotineiras de disciplinas, como uma entrega de exercício. Quem é investigado e condenado em casos assim, não são nem aceitos em outras universidades.
No Reino Unido esse rigor também é aplicado e os graduandos submetem seus trabalhos à avaliações da universidade. Os professores verificam e abrem inquéritos, e os alunos são investigados por comissões formadas especificamente para isso.
No Brasil, isso só acontece se você virar ministro da educação.
Ninguém se importa com a ciência e, muitos menos, em verificar “micro-trapaças” feitas por pessoas em várias áreas da sociedade como administração, academia, medicina, empreendedorismo etc. Poderia passar dias citando micro ilegalidades/imoralidades cometidas pelas pessoas que ninguém se importa. É um medicamento desviado ali, outro funcionário não registrado lá, um título de doutorado sem defesa de tese aqui. Portanto, falta muito ainda para o brasileiro entender que o problema do Brasil é o brasileiro.
Esse post foi modificado em 23 de novembro de 2021 19:12
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